Estamos quase no Outono, a estação que
nos grita "lembra-te que já não é Verão, mas aproveita que o Inverno ainda
não chegou". A própria palavra, Outono, soa redonda, soa a recomeço,
enrola-se na boca, e sai quase com igual sonoridade se a lermos de trás para a
frente. Os miúdos voltam à escola, os graúdos voltam ao trabalho. A grande roda
continua a girar, como na música dos Massive Attack, Hymn of the Big Wheel.
No campo, mais
que na cidade, esta estação é vital. Agora colhem-se os frutos mais tardios,
como as maçãs, as uvas, os figos, os dióspiros ou os marmelos. Apanham-se as
azeitonas que vão dar azeite para o ano inteiro. Recolhem-se pinhas e lenha
para nos aquecer no Inverno. Há uma certa melancolia e ao mesmo tempo um
frenesim no ar. As árvores perdem as folhas e revelam os trocos nus, ficam num
estado de letargia até chegar o quente da Primavera. As folhas secas rodopiam
ao vento e acabam por cair por terra, fertilizando-a e fazendo-a brotar de vida.
Ao contrário da
formiga, que trabalha todo o Verão, aqui laboramos todo o Outono. Porque o
Verão é rigoroso de calor e o Inverno rigoroso de frio. Mas, mesmo com tanto
trabalho há sempre tempo para beber os últimos raios de sol, na espreguiçadeira
da pérgola virada a sul.
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