Quando há uns
meses atrás aceitei o desafio de escrever sobre este tema, estava longe de
saber que por esta altura as aulas ainda não tinham começado. Estava também a
milhas de distância de imaginar que iria haver uma mudança radical, a passagem
de uma pequena escola do interior, com um total de 40 alunos (que incluem todo
o primeiro ciclo) para a grande escola, na capital, com mais de 60 alunos só no
terceiro ano (que incluem variadas nacionalidades, com predominância para as
asiáticas).
Quando a mudança
se tornou inevitável fui introduzindo o tema da 'nova escola' com algum
cuidado, mas obtinha sempre a mesma resposta. "Não vou ter saudades, não
tenho amigos", dizia ele, apesar de ser um dos mais populares na sua
pequena escola. Agora que estamos a apenas uma semana do início das aulas já
mostra alguma ansiedade. "Não sou um prego. Tenho sentimentos. É claro que
tenho saudades dos meus amigos, da minha professora e das auxiliares".
Parece-me uma frase copiada de algum desenho animado, daqueles que se podem ver
até à exaustão nas férias e com muita moderação durante as aulas.
Enfim, não posso
expor aqui como foi o regresso às aulas e a entrada na nova escola, porque
ainda não aconteceram. O que é certo é que os dias preguiçosos de Verão, sem
hora para deitar nem despertador para acordar, estão a chegar ao fim e para não
haver dúvidas até o tempo enegreceu nos últimos dias. Para trás vão ficar
também os trabalhos no campo, como as vindimas.
Este ano o meu
rapazote de oito anos recebeu o seu primeiro salário nestas lides. Incentivado
pela avó cortou uvas, despejou baldes e, sempre que o deixavam, saltava para o
tractor com o avô. Dar uma tesoura para as mãos de um miúdo desta idade é uma
grande responsabilidade e o inevitável aconteceu. Cortou um dedo. Depois do
choque de ver o sangue a cair, o que realmente o aborreceu foi não poder
continuar a 'trabalhar'. Meia hora depois já estava de volta ao activo e
segredava-me ao ouvido "este é o melhor dia de vindima de sempre".
Lembrei-me
imediatamente deste episódio quando li a entrevista, ao ionline, de Carlos
Neto, investigador da Faculdade de Motricidade Humana, em que alertava para os
perigos de dizer sempre não às crianças por medo de que se magoem.
Magoar faz parte
do crescimento. Mudar de escola faz parte do crescimento. Ficar de coração
apertado faz parte da maternidade.
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