De todos os
trabalhos no campo, apanhar azeitona e vindimar são os que mais gosto (leia-se
os que menos desgosto). Ao contrário de outros como a apanha dos figos, do
tomate ou de pimentos, só se passa uma vez no mesmo sítio. Podemos ir fazendo a
contagem decrescente, cada oliveira apanhada é menos uma oliveira por apanhar.
Cada parreira vindimada é menos uma parreira por vindimar. Consegue-se ver o
fim da tarefa. Enquanto nos ditos figos, tomates e pimentos se tem que voltar
quase semanalmente, uma vez que não amadurecem todos ao mesmo tempo. É que,
como diria o Ricardo Araújo Pereira, numa expressão que certamente roubou ao
meu pai, é tudo muito bonito mas...
Sabe muito bem
estar no campo, sentir o cheirinho do orvalho pela manhã, ouvir os passarinhos
a chilrear, seguir o voo das borboletas de flor em flor, aquecer o corpo e a
alma quando um raio de sol rompe uma nuvem, mas quando há tarefas a cumprir e
tempo limitado para as cumprir não dá para usufruir do cenário campestre. E a
apanha da azeitona é um desses casos em que o tempo faz toda a diferença para a
qualidade do produto final - o azeite.
O método é
simples mas extenuante, cobre-se o chão um pouco além da medida da copa da
árvore com um pano de nylon, sobe-se
à árvore para varejar (com uma vara de eucalipto ou de bambu) os ramos mais
altos, depois, já no chão varejam-se os ramos mais baixos. No pano ficam as
azeitonas, muitas folhas e alguns ramos mais frágeis que se quebraram com a
vara. As folhas serão mais tarde sopradas no lagar, mas os ramos têm que ser
retirados, só depois se pode despejar o produto da oliveira em sacos ou caixas
e repetir o processo na árvore seguinte.
Depois da apanha,
a azeitona deve seguir para o lagar para ser transformada com a maior brevidade
possível, nunca mais de 24 horas, para evitar a fermentação, daí a urgência na
apanha. Quando queremos ter a certeza que o azeite que trazemos do lagar foi
feito com as nossas azeitonas temos que assegurar que entregamos o suficiente
para fazer uma 'medura' - não vale a pena procurar o significado desta palavra
no dicionário, já o fiz para vos tentar explicar correctamente, mas
simplesmente não existe embora se utilize em todo o Ribatejo para denominar uma
quantia de azeitona não inferior a 500 quilogramas. O lagar retira uma maquia
(uma porção do azeite que serve de remuneração
do seu trabalho) e o restante ouro líquido segue para casa, normalmente numa
proporção de entre 10 a 12% do peso entregue no lagar.
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