Águias,
abelharucos, cegonhas, poupas, pirilampos, saca-rabos, coelhos e raposas foram
a fauna abundante durante os mais de cinco anos que vivemos no campo a tempo
inteiro. Bastava sair de casa e lá dávamos com os abelharucos a alimentar os
filhotes, as cegonhas à procura de lagostins no ribeiro, uma cobrita a tomar o
pequeno-almoço. Isto já sem contar com os rebanhos de cabras e ovelhas que
muitas vezes se atravessavam no caminho e dos quais ríamos e chamávamos
engarrafamentos. Por vezes uma ovelha tresmalhada pernoitava por ali perto e
ouvíamos o balir assustado durante toda a noite.
Mas embora sejam
interessantes o suficiente para a Disney, que lança esta semana um filme cujos
protagonistas são uma coelha e uma raposa - Zootrópolis - estes bichos nunca
encheram as medidas do Gaspar, o meu filhote agora com nove anos. Muitas vezes
me pediu para ir ao Jardim Zoológico, ver os animais 'diferentes'. Queria ver
os animais de grande porte, a girafa, o elefante, o rinoceronte, o leão, o
tigre, enfim, daqueles que não aparecem nas charnecas ribatejanas.
Quando mudámos
para a cidade ficou prometida uma ida ao Zoo. E como o que é prometido por uma
mãe tem que ser cumprido, sob pena de cair em desgraça para sempre, lá fomos ao
Zoo. Fomos num dia de Dezembro, daqueles em que a luz acaba por volta das cinco
horas. Como ia ser um dia em cheio, pensei que talvez fosse melhor ir só depois
de almoço. Seguimos de barriguinha cheia, mas com um lanche, não fosse a fome
apertar.
O comportamento
duma criança à entrada num zoo é mais ou menos o que tem numa loja de doces.
Quer tudo! Os animais de grande porte ficaram logo esquecidos quando anunciaram
o início do espectáculo dos golfinhos e o lanche desapareceu entre piruetas no
ar e fotografias. Depois dos golfinhos veio o teleférico, mas não deu para ver
quase nada porque os bichos estavam todos recolhidos, provavelmente também a
lanchar. Depois do teleférico quis ir ver os répteis. Depois chegou outra vez a
fome.
"Mamã há um McDonalds à entrada,
vamos lá? Estou cheio de fome". Para ir a esse famoso restaurante tivemos
que sair do Jardim, mas podíamos sempre voltar a entrar porque nos fizeram uma
marca no braço. Enquanto comia um hambúrguer com vista para o lago dos
crocodilos fazia planos para os próximos animais a ver: a girafa, o elefante, o
rinoceronte, o leão, o tigre, etc. Mas quando esticámos o braço para voltar a
entrar o Zoo já estava encerrado. "Mas como é que o tempo passou tão
depressa?" Perguntava o Gaspar. Não sei, mas temos que voltar, afinal nem
sequer vimos a girafa, o elefante, o rinoceronte, o leão, o tigre...
A diferença entre
campo e cidade faz-se também nestas pequenas coisas. Os animais até podem ser
mais pequenos, embora também os haja grandes como o burro, as vacas ou os
cavalos, mas o tempo, esse bem tão escasso na cidade, no campo parece não ter
fim.
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