quarta-feira, 17 de setembro de 2014

outono/onotuo


Estamos quase no Outono, a estação que nos grita "lembra-te que já não é Verão, mas aproveita que o Inverno ainda não chegou". A própria palavra, Outono, soa redonda, soa a recomeço, enrola-se na boca, e sai quase com igual sonoridade se a lermos de trás para a frente. Os miúdos voltam à escola, os graúdos voltam ao trabalho. A grande roda continua a girar, como na música dos Massive Attack, Hymn of the Big Wheel.  
No campo, mais que na cidade, esta estação é vital. Agora colhem-se os frutos mais tardios, como as maçãs, as uvas, os figos, os dióspiros ou os marmelos. Apanham-se as azeitonas que vão dar azeite para o ano inteiro. Recolhem-se pinhas e lenha para nos aquecer no Inverno. Há uma certa melancolia e ao mesmo tempo um frenesim no ar. As árvores perdem as folhas e revelam os trocos nus, ficam num estado de letargia até chegar o quente da Primavera. As folhas secas rodopiam ao vento e acabam por cair por terra, fertilizando-a e fazendo-a brotar de vida.
Ao contrário da formiga, que trabalha todo o Verão, aqui laboramos todo o Outono. Porque o Verão é rigoroso de calor e o Inverno rigoroso de frio. Mas, mesmo com tanto trabalho há sempre tempo para beber os últimos raios de sol, na espreguiçadeira da pérgola virada a sul.


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